Vivemos momentos de incertezas, observamos a instabilidade à nossa volta e confiar quando tudo está bem, qualquer um consegue!
A vida é um aglomerado de situações e experiências, as quais vivenciamos de diversas formas emocionais. A profissão, a família, a vida social, são partes de um grande puzzle da nossa existência terrena e todas elas fundamentais ao nosso crescimento. O medo, a dúvida, a instabilidade, tudo isso abala as nossas convicções, a confiança que temos em nós, nos outros, na vida. E então, o que é confiar? Eu diria que confiar se resume a entregar. Entregar o que temos, o que sentimos, o que somos. Entregar a quem? À vida, essencialmente à vida, pois esta já engloba tudo o que existe. Podem questionar-me se agora podemos confiar em tudo e todos, mas eu deixo outra questão, para quê viver a desconfiar de tudo e de todos? Seremos mais felizes assim?
Se confiar é entregar, então quando não confiamos em alguém, não nos estamos a entregar, ou seja, estamos fechados “na nossa bolha”, onde não permitimos que os outros cheguem. Mas pensemos ainda, por que razão não confiamos? Então é assim, o que julgamos na vida e nos outros, seja a que nível for, está condicionado pelas nossas vivências, pelo que vemos e sentimos de nós mesmos. Então, se não confiamos em alguém, será que confiamos em nós mesmos? Temos medo que alguém nos faça mal, será então que não tememos o nosso subconsciente que tantas vezes reprimimos devido a tantos padrões sociais que nos foram impostos? E se não confiamos em nós e nos outros, poderemos ter confiança na profissão, no estado social, no dinheiro, só porque, algures no passado, algo correu como não esperávamos?
Se pararmos um pouco para sentir e pensar, vemos que travamos imensas guerras interiores com coisas muito pequeninas. Ouvi há uns dias que em muitos países da Europa a maior causa de “stress” é o dinheiro e não só a falta dele, pois quem não tem, teme pela sobrevivência de quem ama e de si mesmo, mas quem tem algum ou muito, teme perde-lo… será o dinheiro então um “bicho ruim”? Procuramos sempre trabalhos melhores, melhores ordenados, tudo para supostamente termos uma vida melhor, melhor conforto, nos mimarmos mais a vários níveis. Mas será só isso? Não será que buscamos incessantemente uma maior perceção de estabilidade, de segurança e controlo? Ou seja, tendo um melhor emprego, tenho mais dinheiro, tendo mais dinheiro, posso comprar mais coisas que me façam falta e cuidar mais de mim, assim sendo, para qualquer imprevisto que tenha, estarei mais protegido, serei mais capaz de o resolver. Então, queremos tanto, tanta coisa, apenas para nos sentirmos seguros, com a vida sob controlo. E porquê? Porque temos medo da incerteza, temos medo de viver apenas o agora, estamos constantemente a viver em projeções do amanhã, projeções essas que são baseadas em vivências anteriores. Se são coisas passadas, quem disse que se vão repetir? Quem disse que ao agirmos assim, elas não acontecem, ou se acontecerem, as controlamos melhor? Resumindo, quem garante que seguindo o medo e vivendo nele, teremos um amanhã melhor? Até podemos ilusoriamente ter, mas estaremos a desperdiçar um maravilhoso “agora” e nesse amanhã, com toda a estabilidade económica e social que podemos vir a garantir, vamos nos sentir tristes, frustrados, apenas porque nos esquecemos de viver, preocupados com o que na realidade não existe.
Discussões, depressões, isolamento, frustração, para quê tudo isso, se podemos apenas deixar fluir a vida? Não digo que seja “chapa ganha, chapa gasta”, quem for mais poupado e gostar dessa forma de estar, então que o faça, contudo, não o faça por medo de vir a não ter. Se o fizeres, que seja porque faz sentido para o teu coração e é um ato livre e não condicionado pelo medo. Pretendes tentar dar um amanhã melhor aos teus filhos? Isso é uma atitude louvável, mas à conta disso, não os limites agora, seja por zangas, palavras ditas sem sentir, ou porque não permites que façam isto ou aquilo com medo que lhes falte depois. Ao agir assim, por medo, estás a destruir sonhos, a fechar corações, a destruir um agora de amor em prol de um suposto amanhã de medo e incerteza. Não te digo que está errado, peço apenas que sintas qual o caminho que faz sentido para ti e seja ele qual for, segue, sem olhar para trás!
Sente, confia, entrega-te à vida, pois como alguém disse um dia, o agora é uma dádiva, por isso se chama presente, pensa nisso. Só neste instante podes agir e viver, quanto ao amanhã, fica para uma outra altura…
Até, …